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quinta-feira, 17 de março de 2011

Entrevista com o ex-governador do DF, José Roberto Arruda.

"O senador Cristovam Buarque, do PDT, que eu conheço há décadas, um
dos homens mais honestos do Brasil, saiu de sua campanha presidencial,
em 2006, com dívidas enormes. Ele pediu e eu ajudei."


Fonte:
http://oglobo.globo.com/pais/noblat/post.asp?t=arruda-diz-veja-quem-ajudou-com-dinheiro&cod_Post=368935&a=111

POLÍTICA
Arruda diz à VEJA quem ajudou com dinheiro

Segundo o ex-governador, dinheiro da quadrilha que atuava em Brasília
alimentou campanhas de ex-colegas como José Agripino Maia e Demóstenes
Torres

VEJA Online

José Roberto Arruda foi expulso do DEM, perdeu o mandato de governador
e passou dois meses encarcerado na sede da Polícia Federal (PF), em
Brasília, depois de realizada a Operação Caixa de Pandora, que
descobriu uma esquema de arrecadação e distribuição de propina na
capital do país.

Filmado recebendo 50 mil reais de Durval Barbosa, o operador que
gravou os vídeos de corrupção, Arruda admite que errou gravemente, mas
pondera que nada fez de diferente da maioria dos políticos
brasileiros: ?Dancei a música que tocava no baile?.

Em entrevista a VEJA, o ex-governador parte para o contra-ataque
contra ex-colegas de partido. Acusa-os de receber recursos da
quadrilha que atuava no DF. E sugere que o dinheiro era ilegal. Entre
os beneficiários estariam o atual presidente do DEM, José Agripino
Maia (RN), e o líder da legenda no Senado, Demóstenes Torres (GO). A
seguir, os principais trechos da entrevista:

O senhor é corrupto?

Infelizmente, joguei o jogo da política brasileira. As empresas e os
lobistas ajudam nas campanhas para terem retorno, por meio de
facilidades na obtenção de contratos com o governo ou outros negócios
vantajosos. Ninguém se elege pela força de suas ideias, mas pelo
tamanho do bolso. É preciso de muito dinheiro para aparecer bem no
programa de TV. E as campanhas se reduziram a isso.

O senhor ajudou políticos do seu ex-partido, o DEM?

Assim que veio a público o meu caso, as mesmas pessoas que me
bajulavam e recebiam a minha ajuda foram à imprensa dar declarações me
enxovalhando. Não quiseram nem me ouvir. Pessoas que se beneficiaram
largamente do meu mandato. Grande parte dos que receberam ajuda minha
comportaram-se como vestais paridas. Foram desleais comigo.

Como o senhor ajudou o partido?

Eu era o único governador do DEM. Recebia pedidos de todos os estados.
Todos os pedidos eu procurei atender. E atendi dos pequenos favores
aos financiamentos de campanha. Ajudei todos.

O que senhor quer dizer com ?pequenos favores??

Nomear afilhados políticos, conseguir avião para viagens, pagar
programas de TV, receber empresários.

E o financiamento?

Deixo claro: todas as ajudas foram para o partido, com financiamento
de campanha ou propaganda de TV. Tudo sempre feito com o aval do
deputado Rodrigo Maia (então presidente do DEM).

De que modo o senhor conseguia o dinheiro?

Como governador, tinha um excelente relacionamento com os grandes
empresários. Usei essa influência para ajudar meu partido, nunca em
proveito próprio. Pedia ajuda a esses empresários: ?Dizia: ?Olha, você
sabe que eu nunca pedi propina, mas preciso de tal favor para o
partido??. Eles sempre ajudaram. Fiz o que todas as lideranças
políticas fazem. Era minha obrigação como único governador eleito do
DEM.

Esse dinheiro era declarado?

Isso somente o presidente do partido pode responder. Se era
oficialmente ou não, é um problema do DEM. Eu não entrava em minúcias.
Não acompanhava os detalhes, não pegava em dinheiro. Encaminhava à
liderança que havia feito o pedido.

Quais líderes do partido foram hipócritas no seu caso?

A maioria. Os senadores Demóstenes Torres e José Agripino Maia, por
exemplo, não hesitaram em me esculhambar. Via aquilo na TV e achava
engraçado: até outro dia batiam à minha porta pedindo ajuda! Em 2008,
o senador Agripino veio à minha casa pedir 150 mil reais para a
campanha da sua candidata à prefeitura de Natal, Micarla de Sousa
(PV). Eu ajudei, e até a Micarla veio aqui me agradecer depois de
eleita. O senador Demóstenes me procurou certa vez, pedindo que eu
contratasse no governo uma empresa de cobrança de contas atrasadas. O
deputado Ronaldo Caiado, outro que foi implacável comigo, levou-me um
empresário do setor de transportes, que queria conseguir linhas em
Brasília.

O senhor ajudou mais algum deputado?

O próprio Rodrigo Maia, claro. Consegui recursos para a candidata à
prefeita dele e do Cesar Maia no Rio, em 2008. Também obtive doações
para a candidatura de ACM Neto à prefeitura de Salvador.

Mais algum?

Foram muitos, não me lembro de cabeça. Os que eu não ajudei, o Kassab
(prefeito de São Paulo, também do DEM) ajudou. É assim que funciona.
Esse é o problema da lógica financeira das campanhas, que afeta todos
os políticos, sejam honestos ou não.

Por exemplo?

Ajudei dois dos políticos mais decentes que conheço. No final de 2009,
fui convidado para um jantar na casa do senador Marco Maciel.
Estávamos eu, o ex-ministro da Fazenda Gustavo Krause e o Kassab.
Krause explicou que, para fazer a pré-campanha de Marco Maciel, era
preciso 150 mil reais por mês. Eu e Kassab, portanto, nos
comprometemos a conseguir, cada um, 75 mil reais por mês. Alguém
duvida da honestidade do Marco Maciel? Claro que não. Mas ele precisa
se eleger. O senador Cristovam Buarque, do PDT, que eu conheço há
décadas, um dos homens mais honestos do Brasil, saiu de sua campanha
presidencial, em 2006, com dívidas enormes. Ele pediu e eu ajudei.

Então o senhor também ajudou políticos de outros partidos?

Claro. Por amizade e laços antigos, como no caso do PSDB, partido no
qual fui líder do Congresso no governo FHC, e por conveniências
regionais, como no caso do PT de Goiás, que me apoiava no entorno de
Brasília. No caso do PSDB, a ajuda também foi nacional. Ajudei o PSDB
sempre que o senador Sérgio Guerra, presidente do partido, me pediu. E
também por meio de Eduardo Jorge, com quem tenho boas relações. Fazia
de coração, com a melhor das intenções.

(Comentário meu: Advogados de Arruda informam que essa entrevista foi
concedida à VEJA em setembro passado, antes das eleições.)

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